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Envelhecer deve ser um presente, não uma preocupação

*por Michele Silveira, coordenadora do Programa Maturidade Ativa do Sesc/RS - mbsilveira@sesc-rs.com.br

Sabedoria e muito conhecimento de vida são desejos de todos, mas aqueles que já conquistaram isso e têm muito a compartilhar são invisíveis para parte da sociedade. Junho Violeta é o mês para debater o combate à violência contra a pessoa idosa e também é tempo de refletir sobre todos os aspectos da velhice. Com saúde, segurança, cultura, tecnologia, lazer, emprego, acesso aos serviços públicos e privados com dignidade e respeito, envelhecer pode ser um presente.

Está mais difícil se aposentar e, ao mesmo tempo, o mercado de trabalho não absorve o conhecimento e a mão de obra das pessoas idosas. O que elas devem fazer? Como poderão se sustentar? O Brasil contabiliza mais de 210 milhões de smartphones, mas de que adianta se não há letramento digital? Eles passam a vida cuidando, da família, dos amigos, gerando riqueza, compartilhando vivências e, no fim, quem está disposto a retribuir?

De acordo com dados do Centro Internacional de Longevidade Brasil (ILC-BR), nos últimos 11 anos, a proporção de pessoas acima dos 60 anos em relação aos mais jovens aumentou 74% no Rio Grande do Sul. O Estado já ocupou o 1º lugar do ranking brasileiro entre os estados com maior expectativa de vida, mas hoje somos o 5º. Estamos envelhecendo aqui, no Brasil e no mundo, mas não tão bem quanto deveríamos. Velhice não é doença. E não sou apenas eu que estou dizendo. A OMS retirou da lista de Classificação Internacional de Doenças (CIDs) essa possibilidade.

A desigualdade e a falta de políticas públicas efetivas para, não somente tratar as consequências, mas prevenir os problemas e oferecer um processo saudável, seguro e feliz de envelhecimento, aumenta diariamente os índices de violência contra as pessoas idosas. Abuso físico, psicológico, sexual, financeiro, sócio-político, abandono, negligência. A rede de proteção precisa de fortalecimento, de gente disposta a não apenas falar sobre, mas fazer. O médico gerontólogo Alexandre Kalache afirma: “Quanto mais cedo, melhor. Nunca é tarde demais”. Somos, dos 0 aos 100+, o maior e mais valioso capital de uma nação. Façamos jus à dádiva que é viver.