Entrevista: Hamilton de Holanda
Músico se apresentou no Festival Internacional Sesc de Música, ao lado da Orquestra de Câmara da UlbraConhecido pela alcunha de “Jimmy Hendrix do Bandolim”, o músico carioca Hamilton de Holanda é popular no mundo inteiro pela técnica apurada com o instrumento. O compositor carioca se encantou pelo bandolim que ganhou do avô, começou a tocar aos cinco anos e não parou mais. Um dos incentivadores da criação do Dia do Choro no Brasil, comemorado em 23 de abril, ele se apresentou no 10º Festival Internacional Sesc de Música ao lado da Orquestra de Câmara da Ulbra. Em entrevista, ele fala sobre a integração da música de concerto com a música popular e dá conselhos aos jovens que estão iniciando a carreira musical.
Você já tocou com orquestra outras vezes? Como é essa experiência para você?
Sim, toquei várias vezes, inclusive fora do Brasil. É uma experiência encantadora, tenho um verdadeiro encantamento pelo som de uma orquestra sinfônica, o som dos violinos, das cordas, dos sopros, a mistura dos timbres, o colorido que isso tem. É um desafio também todos tocarem juntos, pois é uma quantidade grande de músicos. Quando você toca junto e realmente acerta as músicas, os arranjos, é uma sensação indescritível, é muito bonito. Sempre que posso estou escrevendo alguma música para orquestra, estou procurando estreitar minha relação com esse universo da música de concerto.
O Festival deste ano têm trazido apresentações que misturam música de concerto com música popular. Como você vê essa integração?
Para mim é como um sonho se realizando, porque desde pequeno cresci, por um lado, estudando em uma escola de música, estudando em uma academia a parte da teoria, a parte formal, a parte da história da música e tinha uma relação com a música de concerto. Ao mesmo tempo, eu tocava meu bandolim nas rodas de choro, nas rodas de música popular em geral, e eu sempre achei que essa fronteira que se coloca, na hora em que a gente toca desaparece. Então eu ver um festival como esse, com tantos músicos, com tantos jovens estudantes, pessoas que vêm de fora do Brasil e do Brasil inteiro, conseguindo fazer essa integração de maneira bonita, eu realmente fico muito feliz e saio de Pelotas com o coração cheio.
Como e com que idade você começou a se interessar por música? E como escolheu o bandolim?
Nasci numa família musical. Meu pai é violonista, meu irmão toca violão de sete cordas, meu tio era saxofonista, meu avô era trompetista. Então a música sempre foi algo muito natural e corriqueiro na minha casa. A gente tocava direto, tinha sempre instrumentos pela casa. E o bandolim foi um presente que eu ganhei de Natal, em 1981, quando eu tinha cinco anos, do meu avô. Eu até tinha em casa outros instrumentos, cavaquinho, violão de sete cordas, pandeiro, um órgão no cantinho da sala, e o encantamento maior foi pelo bandolim. Não sei exatamente porque, pois nessa época eu era muito criança, a gente não lembra exatamente os detalhes. Eu sei que aprendi a tocar bandolim antes de ler e escrever, então faz parte do meu corpo e da minha alma.
Aqui no Festival há muitos jovens que estão iniciando a carreira na música ou pensando em seguir esse caminho. Quais conselhos você daria para eles?
Trabalhar com música é muito bom, mas dá muito trabalho (risos). Além de cuidar para tocar bem, para saber as músicas, conhecer de harmonia e saber de melodia e de ritmo, existe uma parte não musical que é muito importante de a gente cuidar também, para que o trabalho seja compensado. A parte musical tem que ter um apoio de uma parte muito boa de produção, de conhecimento na área de direitos autorais, de contratos e tudo o que não é musical dentro da carreira de um músico. Então o conselho que eu dou é este: desenvolva o máximo da sua música possível, mas ao mesmo tempo desenvolva o seu interesse pelo que não é musical na sua carreira. Faça parcerias e encontre pessoas para formar uma equipe de trabalho que tenha conhecimento em outras áreas e que possa juntar ideias e levar, no final das contas, o objetivo para frente, que é conseguir levar a música para as pessoas.
O Festival está abrindo cada vez mais espaço para o choro, com apresentações e aulas. Qual é a importância de o choro estar presente em eventos como esse, que têm uma missão pedagógica, mas também de levar música à comunidade?
O choro é um patrimônio do Brasil, então eu acho que tem tudo a ver ele ser apresentado e ter mais espaço em um festival internacional de música como esse de Pelotas. É uma maneira de se dar o verdadeiro valor ao que a gente tem de bom, culturalmente falando, e ao mesmo tempo integrar com outros tipos de músicas, não só as do Brasil, mas músicas de fora do Brasil, colocando o choro em uma perspectiva mundial, como uma pedra preciosa da nossa cultura. Eu diria que quem aprende a tocar choro encurta o caminho para aprender qualquer outro gênero, porque tecnicamente o choro tem uma base muito sólida, muito forte, e isso ajuda muito na hora de aprender qualquer tipo de música. Então dentro da nossa cultura, eu acho muito importante que o choro seja apresentado de uma maneira pedagógica, mas que também não perca a informalidade das rodas e essa conexão com a comunidade que quer simplesmente ver um concerto.