Natação: com que roupa eu vou?

É comum vermos triatletas não dando a devida atenção à natação sob a justificativa de que a prova se decide mesmo é nas outras etapas. Esse tipo de pensamento acaba sendo prejudicial porque confunde o propósito do Triathlon de ser um esporte único que encadeia três modalidades, onde o desempenho de uma interfere diretamente na outra não apenas no tempo de prova, mas também no esgotamento físico. Além de proporcionar uma chegada à transição à frente dos demais competidores, uma boa preparação é importante na hora de enfrentar o desafio das condições ambientais em águas abertas e, normalmente, tumultuadas e turbulentas sem desperdiçar energia e desgastar o corpo mais do que o necessário para aguentar as outras etapas.

Nesse sentido, a vestimenta também influencia o desempenho global do triatleta na água. Além da tecnologia envolvida nos modelos e materiais, a escolha do que usar durante a natação deve recair, principalmente, no que é mais confortável e no tipo de roupa que se adapta ao seu corpo e a qual o seu corpo é capaz de responder de forma positiva. É impossível pensar em realizar uma prova de Triathlon, seja qual for a distância, vestindo trajes que incomodam ou limitam a mecânica do movimento.

Conheça a seguir as possibilidades de vestimentas e seus benefícios para turbinar a sua natação.

Trajes de neoprene

Como as provas são realizadas em águas abertas e muito cedo pela manhã, na maioria das vezes, as temperaturas são baixas e podem causar hipotermia nos atletas. Por isso, algumas competições permitem o uso de roupas especiais emborrachadas (neoprene) que protegem o corpo não só da temperatura, como também da agitação e das correntes da água.

A International Triathlon Union (ITU) libera a roupa de borracha para amadores quando a água está a temperatura abaixo de 22º, em provas com até 1500m de natação; abaixo de 23ºC, em provas com 3000m e abaixo de 24ºC, em provas com mais de 3.000m. Se a temperatura estiver abaixo dos 15ºC, o uso da roupa é obrigatório. Já outras provas, como o Ironman Brasil, permitem o uso da roupa por amadores, independente da temperatura da água.

Além da função térmica, os trajes diminuem o atrito do corpo contra a água e melhoram a flutuação graças à sua composição. O neoprene é fabricado em diversos tipos e espessuras, com características que diferem em cada modelo, como elasticidade nas áreas articuladas dos ombros, joelhos, bacia e coluna; baixa densidade para melhor flutuação; impermeabilidade; facilidade de moldagem ao uso e exclusivamente para natação de baixo arrasto (refere-se à camada de teflon aplicada na parte externa da roupa). As possibilidades são amplas bem como as ofertas. O que muda de uma marca para outra é a qualidade da matéria prima utilizada, da modelagem, da colagem, dos acabamentos e da vedação, itens nos quais deve ser observado o custo X benefício.

Menos força de arrasto, mais velocidade

A tecnologia nas roupas de neoprene para nadadores trazem algumas vantagens em relação à tradicional sunga ou às vestimentas de duas peças (bermuda/top). Alguns estudos sugerem que o traje possa melhorar o rendimento durante o nado, proporcionando mais velocidade e melhor desempenho em diversos aspectos. Com a melhora da flutuação proporcionada pelo material da roupa, o corpo do nadador assume uma posição mais hidrodinâmica, reduzindo a força de arrasto ou de resistência que a água faz contrária ao deslocamento do atleta, o que pode influenciar na velocidade, aumentando o potencial de “deslizamento” do corpo sob a água. Ainda assim, não há consenso em relação à magnitude dessas alterações, onde os resultados apontam variações entre 3% e 10% na velocidade do nadador.

Também existem estudos que demonstram uma redução na demanda energética e na frequência cardíaca, afirmando que ao reduzir a resistência da água, o traje colabore para a economia do movimento, ou seja, o corpo desliza melhor e mais rápido, logo o atleta faz menos esforço. Alguns modelos permitem, inclusive, a estabilização da postura e da rotação do nadador.

A questão das mangas também pode influenciar na força de arrasto hidrodinâmico, que é maior na roupa sem mangas, assim como o frio se a água estiver muito gelada. Ainda assim, o modelo pode ser a solução para quem precisa de braços e ombros mais livres.

Independente do modelo adotado, o traje precisa ter um bom fit, e ser usado em, pelo menos, alguns treinos até que o corpo se acostume e comece a sentir os seus benefícios, ou não. Na hora de escolher um macaquinho para natação, é preciso experimentar modelos até encontrar um que se encaixe perfeitamente e nunca tentar usar roupa emprestada de amigos. Cada corpo é diferente, e cada atleta tem uma necessidade de acordo com a sua trajetória e seus objetivos no esporte.

As mulheres devem procurar roupas com formatos específicos adaptáveis às curvas femininas, o que faz uma grande diferença para o conforto e também para o desempenho. Não devem usar roupas masculinas, que são desenhadas levando em consideração a proporção exclusiva dos homens com flutuação na região dos ombros, sem espaço para seios e sem ajuste aos quadris. Também existem tops funcionais para Triathlon que sustentam os seios e podem ser usados sob a roupa emborrachada e durante as outras etapas do ciclismo e corrida, além de funcionarem bem sob condições de calor e sob a água.

Devido ao alto custo despendido na compra dessas vestimentas emborrachadas, muitos triatletas não gostam de usá-las em treinos de piscina para que o cloro não estrague o material, mas é sempre aconselhável testar todo o tipo de material antes de colocá-lo em provas.

Com ou sem roupa?

Com tantas qualidades atribuídas ao traje emborrachado, é difícil imaginar porque alguém iria preferir nadar sem ele se tiver condições de adquirir um modelo com alta tecnologia. Mas como uma das características desta roupa é ser bem justa ao corpo para vedar a entrada de água e trazer todos os benefícios mecânicos a que se propõe, ela pode se tornar um incômodo para o triatleta, especialmente o iniciante. Outra dificuldade é a sua retirada na transição, que muitas vezes precisa contar com ajuda de outras pessoas para puxar braços e pernas e se livrar da aderência.

Uma possibilidade para quem não se adapta ou não pretende usar os macaquinhos, é a escolha das bermudas específicas para o Triathlon, e os tops no caso das mulheres. Também é possível ver triatletas, inclusive na elite, usando as sungas quando a temperatura permite. São várias possibilidades: as mulheres podem nadar com uma roupa única ou em duas peças, sendo que muitas seguem usando o traje de natação na hora de subir na bike. Já os homens podem nadar usando os macaquinhos ou com shorts especiais para Triathlon, uma espécie de bermuda que pode ser usada para nadar, pedalar e correr, ou ainda usarem sunga, como nos velhos e bons tempos da década de 80.

A escolha de bermuda e camiseta/top também pode favorecer quem está começando o seu desenvolvimento no esporte e, com a evolução dos treinos, vai acabar mudando as proporções do seu corpo, deixando a roupa de peça única emborrachada sem um bom fit. Não menos importante, a ida ao banheiro durante a prova também é favorecida pelo uso de duas peças.

Se você ainda não tem certeza se continuará praticando este esporte ou se pretende competir em provas, e isso coloca em dúvida também a necessidade de maiores investimentos em roupas funcionais, a chave é a escolha do short certo. Se quiser investir, experimente muitos modelos até encontrar aquele que será a sua segunda pele nas provas. Em se tratando de Triathlon, um esporte de grande desgaste, conforto também é sinônimo de bom desempenho.